O terceiro encontro da Confraria Entrelinhas mostrou-se maduro na medida em que resgatava as abordagens anteriores, talvez pela abrangência do tema ou pela sintonia que começa a estabelecer-se entre os confrades. Com direito a café, vinho e caldo de aspargos com milho o encontro durou quase três horas, horas dedicadas a reflexões profundas que começaram com Freud, Nietzsche, Galeano e foram embaladas pela música de Gilberto Gil, sem esquecer do amigo Vinícius de Moraes que sempre acompanha a confrade que traz Poeta no nome. Embasado nos autores citados acima e em outros tantos, percorremos os caminhos virtuais buscando, em cada um deles, o viés da ferramenta de trabalho que auxilia na divulgação de informações. É verdade que encontramos uma forte veia Narcisista que foi defendida por todos, ainda assim o encontro termina com a postagem das fotos no Facebook mostrando a satisfação dos confrades.
Claudia Carvalho - Coordenadora do 3.º Encontro
Pela Internet - Gilberto Gil
Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu velho orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipé
Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut acessar
O chefe da milícia de Milão
Um vírus pra atacar programas no Japão
Eu quero entrar na rede pra contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar
Participantes desta edição:
Marcelo Silva Dysiuta (Pela Internet / Gilberto Gil e Pessoas no Mundo Virtual / Paulo Póvoa); Jairo Bittencourt Hass; Hannah Rosa Beineke (Balde de Gelo); Claudia Carvalho ( Eu (não) quero ter um milhão de amigos); Maria da Graça Schneider; Liane Schneider Tonelotto ( Eu caí do Mundo / Galeano, Eduardo ); Clara Mussoi ( Amores via Internet / Martha Medeiros e Soy Loco / Renato Duarte); Renato Duarte; Guilherme Schneider; Tatiana Ferraz Menezes; Andréa Aquini de Oliveira; Darlan Miranda; Denise Beineke; Jessica Castency de Moura e Guima Beineke.
Eu (não) quero ter um milhão de amigos - Claudia Tajes – ZH 12/04/11
Antes, a gente fazia amigos por simpatia, afinidade, admiração e, se nada disso importasse, pela e velha química. Quem não amou perdidamente alguns amigos que, na teoria, não tinham nada a ver, mas que eram as melhores e mais engraçadas companhias, ainda que para dias e eventos específicos?
Daí o senhor Mark Zuckerberg inventou o Facebook (ou se apropriou da ideia, segundo a história), virou o biliardário mais jovem do planeta e transformou a amizade em commodity, este termo do economês que designa, inclusive na língua brasileira, produtos básicos e de consumo largo como o feijão, o café e o trigo. Depois do Facebook, a amizade virou ovo, milho, algodão. Perdeu completamente a marca. Basta clicar em “confirmar” e pronto, viramos amigos.
Perco a conta dos pedidos de amizade que recebo a cada dia no Facebook. Apesar de não conhecer a imensa maioria dos meus candidatos, confirmo todos. Quem sou eu para recusar alguém que me queira como amiga? Ainda assim, sabendo das minhas manias, é bom que a internet nos separe. Certamente seremos grandes amigos, basta que a gente jamais se encontre.
Hoje sou amiga de adeptos do sertanejo universitário e de adoradores da Madonna. Muitos me mandam convites para integrar as torcidas organizadas do Inter, mas esses, acho eu, só estão tirando sarro de mim. Um grupo sempre me chama para Bailes da Melhor Idade e uma facção sadomasoquista volta e meia me pede para escrever seu manifesto. Mas há outro lado. As gurias de uma confraria de leitura viraram boas companheiras e vários amigos virtuais passam adiante trabalhos e informações para seus contatos, o que gera uma divulgação e tanto.
Enquanto isso, o mundo trata de reforçar as amizades de verdade, essas que se parecem com um presente ou uma recompensa. Depois de uma cirurgia, saí do hospital meio grogue, mas com todas as razões para preferir a vida real à rede social. Os médicos foram amigos, os amigos não saíram de perto, a família esteve junto, o namorado não arredou pé por um minuto.
O Facebook é um sucesso, mas não tem jeito. Para curar de tudo, solidão, males do coração, sequelas de operação, bom mesmo é ter amigos do lado de cá do computador.
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