segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Segundo encontro da Confraria Entrelinhas aconteceu dia 5 de agosto de 2011

Pareceu-me que o encontro de ontem foi ainda melhor que o primeiro, pois não senti, em momento algum, que o pessoal quisesse se despedir tão cedo, a "tristeza", apesar de ser negada por todos, é um tema que rende uma grande colcha de retalhos, na qual cada um de nós ia buscando, em seu interior, momentos tristes e tentando entendê-los melhor, encontrando justificativas externas para aceitá-los da melhor maneira possível.
A Confraria é um encontro com nós mesmos, no qual vamos reorganizando, da melhor maneira, os reveses da vida, se é que essa é a melhor palavra. Bem, acho que é isso, na verdade era para ser só um bom dia.
Segue, em anexo, a crônica lida por mim. Bom final de semana, boas leituras e é claro, boas vendas.
 Abs,
 Claudia Carvalho

Antes da dor

Fabrício Carpinejar


   Não vou telefonar, não vou mandar torpedo, apesar da vontade imensa de reatar. O orgulho assumiu meu quarto. Conversa com ele agora. Com essa governanta das minhas desvalias, do meu guarda-roupa e sapatos. Estou de castigo, protegido, ausente, impedido de responder por mim. Se fosse responder, avisaria que dependo de você, que a desejo de volta. Infelizmente sou capacho de minha angústia. Piso em minhas palavras para limpar os pés da chuva.
   O desamor é treino. Não existe desamor. Existe ensaio, simulação da indiferença, controle absurdo do cumprimento. Não que não sinta nada por você, sinto absolutamente tudo mais do que nunca e não consigo comunicar. Os cotovelos latejam, a cabeça boia, as pernas mergulham numa fraqueza de maratona.
   É esquisito ser seu ex. O corpo não aceita participar da greve de fome. No dia seguinte, sou seu ex-namorado. Acordei ex. Pronto. Na noite anterior, era o homem mais importante. Agora virei um estranho, um engano. É excessivamente cruel. Largar uma história em comum sem nenhuma desintoxicação, tratamento. Sem nenhuma antessala para chorar, berrar, espernear, expiar a febre. É muito mais grave do que um vício.
    Quando você ardia alguma angústia, dizia que logo passava.
    Não passará logo. Fingirei. Fingirei que me darei melhor sozinho. É uma estrondosa mentira que também acreditará porque não tem escolha. Sou uma mesa para dois, serei sempre uma mesa para dois. Levarei minhas malas para ocupar a cadeira ao lado. Enfrentarei o questionamento: “Onde você anda?”, nos lugares em que frequentávamos juntos. Explicarei que brigamos, escutarei dos amigos que é normal e que logo faremos as pazes, comentarei que é definitivo por educação e para não sofrer mais.
    O ex mente, integralmente mente, complicado porque você me ensinou a gostar da verdade. Não tivemos filhos, não tivemos uma casa para dividir a partilha, não tivemos um cachorro para se procurar novamente. Não projetamos pretextos para a reconciliação, como esquecemos disso? Nosso amor não tem endereço como um circo, montado e desmontado na estrada.
    Como dói o que não começou a doer. Não preciso de férias, preciso de outra vida.








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